terça-feira, 18 de agosto de 2009

Diálogos III

-O seu Pai tem alta.
-Alta? Mas o que é que ele teve?
-Mais um AVC, provavelmente.
-Mas então... como é que o levo para casa assim??
-Ele não estava já acamado, demenciado, sem vida de relação e escariado?
-Sim, mas ainda dirigia o olhar, parecia reconhecer-nos de vez em quando, e engolia.
-Tem uma sonda naso-gástrica para alimentação, o Sr Enfermeiro vai ensiná-la a usá-la.
-Assim não o levo!
-Mas porquê, se me permite a pergunta?
-Porque está muito pior, e só um ser muito desumano poderia enviar outro neste estado para casa! Como é que eu haveria de tratar dele?!
-Da mesma maneira que fazia. Só que alimentando-o pela sonda... passando a comida....
-Nem pensar!
-A situação do pai não era já muito má? Chegou alguma vez a contactar os serviços sociais para resolverem o problema, talvez enviando ajudas lá para casa, ou internando o senhor numa instituição?
-Ajudas já tem, umas enfermeiras que vão lá fazer os pensos nas escaras, e levantá-lo da cama para o cadeirão, e nem é todos os dias! Às vezes tenho que ser eu a deitá-lo novamente! E é meu sogro, não é meu Pai! Nem pensar, não o levo neste estado! Tem que ficar internado!
-Olhe, o internamento nestes casos de AVC visa uma reabilitação, e uma estratégia preventiva e de estadiamento. Pelo que me conta, não há reabilitação possível no sogro, a situação basal é irreversível, e as profilaxias inúteis. Acho que precisa mesmo é de resolver o assunto com os Serviços Sociais da sua área. Entende? Parece-me tratar-se de um problema Social, aquele que a aflige, e não um problema médico.
-Então resolva você o problema social, eu cá não o levo assim! (virando as costas e regressando a sua casa)

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