quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Recuerdos de um ORL do Norte

Carlos Barreira da Costa, médico Otorrinolaringologista da mui nobre e Invicta cidade do Porto, decidiu compilar no seu livro "A Medicina na Voz do Povo", com o inestimável contributo de muitos colegas de profissão, trinta anos de histórias, crenças e dizeres ouvidos durante o exercício desta peculiar forma de apostolado que é a prática da medicina. Algumas pérolas.... O diálogo com um paciente com patologia da boca, olhos, ouvidos, nariz e garganta é sempre um desafio para o clínico: -"Quando me assoo dou um traque pelo ouvido, e enquanto não puxar pelo corpo, suar, ou o caralho, o nariz não se destapa". Os "problemas da cabeça" são muito frequentes: -"Andei num Neurologista que disse que parti o penedo, o rochedo ou lá o que é...". -"Fui a um desses médicos que não consultam a gente, só falam pra nós". Os aparelhos genital e urinário são objecto de queixas sui generis: -"Venho aqui mostrar a parreca". -"A minha pardalona está a mudar de cor". -"Às vezes prega-se-me umas comichões nas barbatanas". -"Tenho esta comichão na perseguida porque o meu marido tem uma infecção na ponta da natureza". -"Fazem aqui o Papa Micau (Papanicolau)?" -"Quantos filhos teve?" - pergunta o médico. "Para a retrete foram quatro, senhor doutor, e à pia baptismal levei três". -"O Médico mandou-me lavar a montadeira logo de manhã". As dores da coluna e do aparelho muscular e esquelético são difíceis de suportar: -"O meu reumatismo é climático". -"Estou desconfiado que tenho uma hérnia de escala". O português bebe e fuma muito e desculpa-se com frequência: -"Fujo dos antibióticos por causa do estômago. Prefiro remédios caseiros, a aguardente queimada faz-me muito bem". -"Eu sou um fumador invertebrado". O aparelho digestivo origina sempre muitas queixas: -"Senhor Doutor a minha mulher tem umas almorródias que, com a sua licença, nem dá um peido". -"Tenho pedra na basílica". -"O meu marido está internado porque sangra pela via da frente e pinga pela via de trás". Os medicamentos e os seus efeitos prestam-se às maiores confusões: -"Ando a tomar o Esperma Canulado"- Espasmo Canulase -"Andei a tomar umas injecções de Esferovite" - Parenterovit -"Era um antibiótico perlim pim pim mas não me fez nada" - Piprilim -"Agora estou melhor, tomo o Bate Certo" - Betaserc -"Tomo o Sigerom e o Chico Bem" - Stugeron e Gincoben -"Tomei Sexovir" - Isovir -"Estava a ficar com os abéticos no sangue". -"Diz lá no papel que o medicamento podia dar muitas complicações e alienações". -"Ó Sra. Enfermeira, ele tem o cu como um véu. O líquido entra e nem actua". O que os doentes pensam do médico: -"Quando eu estou mal, os senhores são Deus, mas se me vejo de saúde acho-vos uns estapores". Em relação ao doente o humor deve sempre prevalecer sobre a sisudez e o distanciamento. Senão atentem neste "clássico": -"Ó Senhor Doutor, e eu posso tomar estes comprimidos com a menstruação? Ao que o médico responde: -"Claro que pode. Mas se os tomar com água é capaz de não ser pior ideia. Pelo menos sabe melhor."

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