quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Sentidos da Longevidade

A beleza de uma criança a crescer. A feiura de um velho a perecer. A comoção perante uma criança triste. A evicção da solidão do velho. O fanado castiço. O desdentado embaraçoso. A atracção pelo potencial futuro. O desprezo pelo desempenho passado. A dor pelo sofrimento. A indiferença. O esforço altruista pelo bem-estar. O medo da despesa. O cheirinho a bebé. O fedor a velho. O encanto da aprendizagem. A intolerância pela demência. A birra tolerada. As manias insuportáveis. O palrar encantador. O guinchar medonho. ... O mundo é das crianças, e pelas crianças. Questiono-me frequentemente: será que sabemos o que dizemos, quando queremos ser velhos, muito velhos? Julgaremos nós sequer imaginar o que nos espera? Como será estar perante contemporâneos decrépitos, perante filhos com "mais que fazer", perante uma sociedade que nos olha como um encargo, e daqueles que urge aligeirar? Perante a fragilidade da idade acrescida da doença, perante a invalidez e a dependência, perante funcionários de lares e de serviços de saúde como os de hoje...?. No viés óbvio da minha visão destas coisas, julgo preferir morrer cedo, rodeado de gente que me ama e que vai sentir a minha falta, ainda enquanto elemento reconhecidamente útil da sociedade, e protegido por aqueles da indiferença. Não vejo empenho em resolver este problema. E para o resolver, seria preciso primeiro assumi-lo. Para o assumir teríamos que nos envergonhar, muito. Ainda nem demos o primeiro passo....

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