terça-feira, 25 de setembro de 2007

Desabafo 2

Ao contrário do que por vezes se espera, os médicos são simples humanos, sujeitos por isso às contingências das imperfeições próprias desta condição. Como tal, têm também superstições. Há uma superstição relativa a doentes que são enfermeiros ou médicos ou seus familiares. Dizemos na gíria que isso constitui um factor de risco e acreditamos que esses doentes têm ad initio uma maior probabilidade de ter complicações graves da sua patologia. Outra superstição diz respeito aos doentes que, ante a angústia e o mau-estar da sua doença, seja ela um simples resfriado ou uma pneumonia grave, deixam escapar as infames palavras “eu vou morrer”. Mais que manifestações de desânimo, acreditamos que essas palavras são verdadeiras e enexoráveis premonições.

Acho que estou perto de criar uma nova superstição pessoal. Esta está relacionada com os doentes cujos familiares obrigam os bolsos das lapelas das nossas batas a engolir indigestas notas. Acontece que no contexto do estudo que foi feito a propósito do dito síndroma febril se descobriu um cancro no rim... Doravante só usarei batas sem bolsos.

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